RACISMO INSTITUCIONAL MONSTRÃO!!!

É Diretora que feio o que a senhora fez hein..
Secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial esteve presente no evento apresentando as políticos públicas que estão ajudando na tentativa de diminuir os casos de racismos em SP.

No entanto, durante sua fala, a luz foi interrompida.
Por quê?

A Diretora da EE Deputado Hugo Lacorte Vitale interpretou que o secretário estava fazendo propaganda política do sua gestão e derrubou a energia de toda escola, cortando o som dos microfones.

Em um evento contra o racismo, tivemos AO VIVO um caso de Racismo Institucional, pois a escola é gerida pelo governo estadual, isso na cabeça da Diretora só podem ações e discussão sobre política pública se o governo do estado estiver presente e autorizar.

Mas em que lugar está escrito que não se pode falar sobre política dentro das escolas PÚBLICAS?

Carnaval Bloco do Beco 2014

Em parceria com o coletivo Bloco do Beco do Jd Ibirapuera, o EncontroÁreas de Conflito em Transformação traz para o público um debate sobre RACISMO INSTITUCIONAL.

ESCOLAS, CEUs, Bibliotecas e espaços públicos são realmente do povo? O acesso e a livre informação é permitida nesses espaços ditos públicos ou seus gestores e superiores que ditam as regras nesses equipamentos de cultura, educação e política?

Para essa conversa estão presentes:
- Mano Brown do Racionais MC's
Poeta Sérgio Vaz do Sarau Da Cooperifa
Aline Maria do Ate Lie Popularte
Thiago Vinicius da Agência Popular de Cultura Solano Trindade

E outros servições gratuitos tais como: manicure, exame de vista, verificação da pressão arterial e uma série de brincadeiras, pois é carnaval \o/

Resíduos da Ditadura


“Pede para ele parar de falar, se não eu desligo a energia!”


Assim a diretora do Colégio Estadual Hugo Lacoste Vitale, localizado no bairro Jd Maria Sampaio, ordenou para parar o debate “Racismo nas Ruas de SP”. Por lá os participantes Thiago Vinicius (Agencia Popular Solano Trindade / Observatório Popular de Direitos) , Juninho (Circulo Palmarino) , Tula Pilar (Poetisa) , e o mediador Lino(Carta Capital) falavam sobre a questão do racismo nas ruas e quando o Secretario da Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, iniciou sua fala, logo veio a ação. Por lá, dezenas de pessoas atentas a conversa, olhos brilhando, perguntas e respostas, um resíduo da ditadura, que até hoje convive na nossa educação formal.
Palavras de ordem trazem essa lembrança para dentro dos colégios. “Inspetor de aluno”, “delegacia de ensino’, “servente’, “ficar em fila e sem falar”, além dos nomes dos Colegios de nossa região, que na sua maioria é de militares.
Escola Presidente Café Filho, Escola Coronel Mario Rangel, e a própria “Deputado Hugo Lacorte Vitale”, também é um resíduo da Ditatura.


A festa que foi englobada dentro do Programa Familia na Escola, que tem que trazer as famílias para as Escolas. Neste caso cumpriu seu dever, graças ao trabalho da comunidade que juntamente com a ONG Capão Cidadão e Agencia Solano Trindade colaborando com a ação, ação essa que a direção da escola tem que prestar conta para a Delegacia de Ensino. Neste dia, os colégios tem que fazer relatórios, e a direção do colégio tem que vir trabalhar, assim como seus professores, neste sistema nós realizadores fomos a salvação, tanto para a população como também para a Direção, que convocou os Professores em Sistema de revezamento. Estes professores que na sua maioria nem deram as caras no evento, pensei no dinheiro público que se gasta, e logo olhamos pelas janelas de uma sala, la milhares de livros se estragando, uma vergonha, esse resíduos da ditadura.
Quanto a festa que realizamos só elogio mulheres, senhoras que vi fazendo uma a uma, coisas que na sua maioria parecem simples, mas que para o povo era essencial para a auto estima, limpeza de pele, medição de pressão, exame de vista, barraco cooperativa, penteado infantil, grafite, musica, alegria geral, como deveria ser o final de semana, na verdade por ali vi o quanto que é delicado a questão política no Brasil. Precisamos formar e e informar os diretores e avisar que a ditadura acabou, e avisar que o povo não merece.
Bora vamos a luta contra as injustiças, isso não é um fato isolado. Por isso vamos a luta! Confiram as fotos.

FUNK OSTENTAÇÃO no HYDDRA

SERTANEJÃO
Armazém - Débora, Janaina, Silmara, Lorian, Jéssica e Denise prestigiaram a balada sertaneja do Armazém Universitário, em São José dos Pinhais.


FUNK OSTENTAÇÃO -
Considerado atualmente como um dos mais populares nomes do movimento "funk ostentação”, vertente paulista com letras sobre artigos de luxo, MC Guimê vai embalar o Carnaval no litoral paranaense. Com realização da Prime, o funkeiro comanda, no próximo domingo, a partir das 22h, a segunda noite de folia no HYDDRA Concept Lounge (Rua Alvorada, 600) em Caiobá. Aos 21 anos, Guilherme Aparecido Dantas, o MC Guimê, morador da região de Osasco, na Grande São Paulo, teve seuboom com o hit “Tá Patrão” e emplacou outros sucessos, como “Na Pista Eu Arraso”, “Novinha Vem Que Tem”, “Isso Que É Vida” e “Plaquê de 100”, música que teve o quinto clipe mais visto no YouTube no Brasil em 2012, com mais de  43 milhões de visualizações até hoje. Seu hit mais recente é "País do Futebol", lançado no final do ano passado, cujo clipe foi gravado com participação do jogador do Barcelona Neymar Jr e o rapper Emicida.  Em menos de dois meses já alcançou a marca de 14 milhões de visualizações. Todas essas músicas devem fazer parte do repertório do show em Caiobá. O luxo descrito nas letras não corresponde à história de vida de Guimê - é, em parte, anseio do garoto humilde. Por outro lado, o funkeiro descreve novas cenas de sua vida que lembram os luxuosos clipes de rap americano dos quais é fã. Filho de um ajudante de eletricista, Guimê chegou a trabalhar numa quitanda para ajudar o pai com as despesas da casa, dos 13 aos 16 anos, quando começou a cantar. Guimê é um dos MCs que mais tem se destacado na cena nacional. Ele possui mais de 1,7 milhões curtidas em sua fanpage oficial do Facebook, 550 mil seguidores no Instagram, 437 mil no Twitter e mais de 110 milhões de acessos nos vídeos em seu canal oficial do Youtube. O MC ocupa o primeiro lugar nas categorias funk e rap no www.reverbnation.com.

GCM é acusada de reprimir Batalha de MC’s na Nicola Vivilechio

O clima de tensão entre a Guarda Municipal e integrantes da Batalha de MC’s na Praça Nicola Vivilechio, acabou em acusação de repressão por parte da corporação, segundo os rappers. Na noite da última terça-feira (18), mais de cem jovens e adultos estavam reunidos na praça para cantar e dançar e acabaram “expulsos” de lá. “Fomos confundidos por fazer parte do Movimento Sem Terra (MST) e de um grupo de um vândalo que pichou um monumento da praça. Obrigados a sair da praça de maneira autoritária e ignorante, se não ‘o pau ia comer’. Eles nem quiseram saber o que realmente ocorria no local”, afirmou o organizador, Nego Puma.
Puma alega que o encontro de MC’s acontece desde 8 de agosto de 2012, sempre às terças, na Praça. Antes da troca de secretário, ele foi recebido por Ali Sati, teria saído de lá com uma autorização e na terça seguinte, o encontro teve a presença da GCM que pediu a autorização. “Entreguei e eles disseram que não servia por falta de comunicação entre eles [da secretaria de Segurança e a secretaria de Cultura”, frisou.

Devido ao não entendimento entre a segurança e a cultura, o grupo seguiu a Batalha na calçada do Cemur, até o final do ano. Ele ressaltou que tentou por algumas vezes se reunir com o secretário de Cultura, Laércio Lopes para conseguir uma autorização para a realização do encontro, mas não conseguiu. “Com a falta de posição sofremos repressão, sem motivos, porque até vídeo do nosso encontro a prefeitura fez”, frisou.
No vídeo da prefeitura de 6:29, postado em 30 de outubro do ano passado, é possível assistir a batalha dos MC’s na praça. Na descrição consta: “Happers de Taboão da Serra e região se reúne todas as terças-feiras para a Batalha de MC's na tradicional Pç. Nicola Viviléchio do centro da cidade”. Ao todo o vídeo foi visualizado 465 vezes. (veja aqui). Nesta data, o secretário de Cultura era o Ali Sati, Laércio Lopes, assumiu a pasta no mês seguinte (dezembro).
A reportagem apurou que na ocasião, a GCM prendeu um vândalo por dano ao patrimônio público. Ele teria pichado o monumento da Bíblia que fica na praça. Devido o encontro reunir  dezenas de pessoas, a corporação, para garantir que não haveria mais baderna, teria solicitado que o grupo fizesse o evento outro dia, com autorização da secretaria de Cultura. Puma afirma que o detido, nada tem haver com seu grupo.

Entre o grupo que o vândalo pertencia houve briga, socos e chutes. A reportagem constatou que eles estavam em um lado da praça, perto do monumento e da Batalha de MC’s em outro canto, bem próximo ao Cemur, que realizou naquela noite a sessão solene pelo aniversário da cidade, de 55 anos celebrado na quarta, dia 19. Foi constado ainda, por volta das 23h50, quatro jovens, um deles machucado e com um pedaço de pau, a procura de alguém. Por questão de segurança a reportagem foi embora, sem esperar desdobramentos.
Na rede social Facebook, a ação da GCM foi amplamente criticada. “Repressão em Taboão a gente vê de montão. Um absurdo este governo tratar artistas desta forma. Falta de respeito, humanidade e solidariedade. A Sociedade está cansada disso. A Batalha TSP que já é realizada a mais de um ano e meio sofreu repressão na terça. Temos que nos organizar e fazer uma revolução logo. Aceitar esse tipo de coisa não dá mais não”, disse Márcia Figueiredo.

Continua

O grupo da Batalha de MC’s pretende continuar com os encontros na praça. “Querendo ou não a batalha ocorre. Mesmo sem aparelhos. Faremos no gogo [voz, garganta]. Estamos em reunião sobre como vamos reagir, mas deixamos bem claro que não vai ficar assim”, disse Puma.
Na quinta, ele afirmou que esteve no protocolo, pediu uma autorização solicitando para que seja feita a batalha na praça. A resposta deve sair dentro de 30 dias.

Outro lado

Entramos em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura por e-mail solicitando uma nota oficial da Guarda Municipal, porém até o fechamento da matéria não obtivemos resposta.
Em contato com Laércio, ele informou que vai tentar acertar o que for melhor para todos, reafirmando que “está sempre disposto a conversar”. Afirmou que não ficou sabendo da acusação de repressão, porém ressaltou que vai conversar com o grupo e se possível chamar o representante (secretário de segurança, Gerson Brito) para a reunião. “Todos os movimentos pacíficos serão respeitados”, frisou.

OCUPAÇÃO NOVA PALESTINA, UMA “CIDADE SEM TETO”

Por Isabel Harari Roberto Oliveira, especial da Agência Vaidapé para Carta Maior
Clodoaldo Santos Costa acorda todos os dias às 7h e sai para buscar água para a cozinha coletiva do G3, maior grupo, com mais de mil barracos, da ocupação Vila Nova Palestina. Sem isso, não há café da manhã. Quando ele volta com o primeiro dos quase 20 galões que carrega às costas todo dia, as cozinheiras já o esperam, limpando e organizando o refeitório, prontas para colocar a água no fogo e preparar o café que, com bolachas e o pão com manteiga doado por um padeiro da vizinhança, ajudam a acordar e sustentar os trabalhadores que saem à labuta diária.
Aqui se aprende a lutar por nós e pelos outros também”, afirma Clodoaldo, que há mais de dez anos vive de aluguel e aprendeu com seu cunhado que é possível conquistar a casa própria através dos movimentos sociais. “Aqui não tem vitória sem luta”, ele garante. Clodoaldo deixou mulher e filhos para viver na ocupação, em busca da casa própria. Com frequência, a família o visita e participa das atividades do acampamento.
Enquanto isso, nos demais setores da ocupação, a cena se repete – os galões de água se amontoando ao lado das cozinhas. Pois além do café tem a louça e as demais refeições do dia, que está só começando na Nova Palestina. Antes de partirem para trabalhar ou estudar (há muitas crianças em todos os grupos da ocupação), os moradores assinam a lista de presença diária – método utilizado pelo MTST para controlar a frequência em suas ocupações.
Porém, muita gente permanece na Nova Palestina. Porque não faltam tarefas e atividades cotidianas na pequena cidade. Quem fica na ocupação dá conta dos chamados mutirões: de limpeza, infraestrutura, água, segurança, alimentação. Tudo funciona coletivamente, através de setoriais que cumprem diferentes papéis no acampamento. “Fazemos tudo aqui por mutirão, hoje [5/2] vamos fazer a troca da rede elétrica da ocupação”, diz Dorgival Duarte, do G5, que morava de aluguel no Jardim São Luiz, zona sul, até que o proprietário decidiu vender o imóvel e ele ficou desabrigado.
Ele explica que não é permitido ter pontos de luz nos barracos dos acampados, pelo perigo de causar incêndios nas lonas de plástico. Assim, foram construidas verdadeiras ruas e avenidas na Nova Palestina, margeadas por postes de luz.
Além da água que cada setor tem que se organizar para buscar pela manhã, há tarefas como a manutenção das lonas e madeirites e a coleta do lixo – que os moradores levam para a rua Clamecy, ao lado do barranco em que se construiu a Nova Palestina, para que haja a coleta pelo caminhão da Prefeitura uma vez por semana. Fato que implica num cheiro forte na entrada do terreno e, pior, na multiplicação dos riscos para a saúde dos acampados. Apesar da coordenação da ocupação ter requerido à administração municipal uma caçamba de lixo para que esta situação seja amenizada, o pedido ainda não foi atendido.
Meio-dia. O sol forte está a pino sobre a Nova Palestina quando se ouve gritos por toda parte: “Olha o almoço no G3″; “saindo almoço no G5″; “olha o rango no G20″. E as pessoas, escondidas debaixo de alguma réstia de sombra, começam a aparecer, uma a uma, em suas respectivas cozinhas coletivas. As filas vão se formando no momento mais aguardado desde o café da manhã. O almoço quase sempre é composto por feijão, arroz, legumes, como batata ou cenoura, e um pedaço de carne – vermelha ou branca, como as tilápias que os acampados pescam com rede no açude que fica a poucos metros em declive no fundo do terreno.
Se possível, há ainda um copo de refrigerante para cada pessoa; quando não, a água gelada mata a sede e o calor do mesmo jeito. Os mantimentos e utensílios são doados pelos próprios moradores ou por pessoas solidárias ao movimento. Às vezes, também há doações de mercados e centros de distribuição de alimentos. Aos poucos, o amontoado de pessoas dá lugar a uma pilha de pratos e talheres sujos, e o silêncio vai tomando conta de cada grupo da ocupação, como numa sesta coletiva.
O silêncio se rompe, porém, com o corre-corre das crianças – umas chegando, outras saindo para a escola. E muitas brincando, de pega-pega, futebol, pular corda, no terrão descampado no centro do terreno da ocupação. “Nós estamos construindo uma brinquedoteca para as crianças aqui no G5, para elas não ficarem debaixo do sol forte e terem um lugar pra brincar”, diz Edilaine Ferreira, uma das coordenadoras do Grupo 5 da ocupação, que morava de favor do Jardim Aracati, quando o proprietário pediu de volta o terreno e ela ficou sem um teto. Edilaine tem quatro filhos e conta que uma das maiores dificuldades na Nova Palestina é conseguir matricular as crianças em escolas públicas.
Em sua maioria, elas permanecem nos colégios que estudavam antes da ocupação: o Jardim Aracati, Jardim dos Reis e Capela IV, a cerca de 30, 40 minutos do acampamento. Não é possível realizar a matrícula em escolas mais próximas à Nova Palestina, pois os acampados não possuem comprovante de residência. Só nesse grupo, são em torno de 250 crianças.
Quem também ajuda a coordenar o G5 é “Dona Mônica”, como é respeitosamente chamada. Ela está no acampamento “desde as 11h45 do dia 29 de novembro do ano passado”, quando o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) ocupou o terreno de quase 1 milhão de metros quadrados ao lado da rua Clamecy, numa perpendicular da estrada do M’boi Mirim, sentido represa do Guarapiranga, na região do Jardim Ângela.
A Vila Nova Palestina, conforme batismo na primeira assembleia, conta hoje com oito mil famílias, cerca de 30 mil pessoas e é dividida em 21 grupos, os conhecidos “gês”. Cada grupo tem uma média de cinco coordenadores que ajudam a organizar as tarefas do cotidiano: fazer a lista de presença, a coleta do lixo, a busca d’água, a manutenção da infraestrutura, mobilizar as pessoas para as assembleias e, principalmente, resolver os conflitos existentes em toda família – normalmente briga de casais e desavenças entre crianças. “A gente encontra aqui uma nova família e vive a realidade de outras pessoas. Às vezes pensamos que nosso sofrimento é maior que o dos outros, mas sempre tem gente sofrendo mais que a gente”, diz ela, explicando que a ocupação é uma grande escola de vida.
O MTST reivindica que a prefeitura revogue o Decreto de Interesse Social lançado na gestão Kassab, que determina a construção de um parque na região e assegura apenas 10% de área edificada. Jussara Basso, militante do MTST, aponta para o Parque Ecológico do Guarapiranga, distante apenas 50 metros da ocupação, fato que evidencia a arbitrariedade da medida. A luta é pela mudança do tipo de zoneamento para uma ZEIS-4 (Zona Especial de Interesse Social 4), em que 30% da área possa ser habitada.
Os proprietários do terreno, Nelson Luz Roschel e Roberto Roschel afirmaram em nota no dia 13 de janeiro que concordam em dialogar com o movimento e entregar o terreno para os moradores caso a Prefeitura mude o zoneamento. A Secretaria de Direitos Humanos pretende realizar uma primeira reunião com os movimentos de luta por moradia na quinta-feira, dia 13 de fevereiro.
Assim como possuir pontos de luz por barraco, também é proibido construí-los em alvenaria,pois o objetivo da ocupação é conquistar moradia digna para todas as pessoas, e não se transformar em mais uma favela de São Paulo. Assim, na Nova Palestina as construções são de madeirite. “A ideia não é permanecer dessa forma. Não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui, pode ser até o Plano Diretor ser votado, ou daqui a seis meses, é uma incerteza…”, aponta Jussara.

Além disso, também não é permitido o consumo de drogas na ocupação, à exceção do cigarro e de “uma cervejinha ou outra no final de semana”. A água, por sua vez, é levada através de uma mangueira às cozinhas coletivas até o G8, mas já há um plano de extensão do sistema até o G16. Enquanto isso não acontece, os moradores dos demais grupos vão buscando galões dia após dia para satisfazer tanto as necessidades individuais como coletivas de seus respectivos grupos.
Do ponto de vista cultural, acontecem algumas atividades para integração e diversão dos moradores da pequena cidade. De vez em quando, bingos e gincanas são organizados e a rádio, que fica em frente ao terrão onde são realizadas as assembleias, está sempre ligada, tocando música e disponível para divulgar qualquer informação que transcenda os grupos.
As assembleias, aliás, costumavam acontecer todo dia. Mas agora são realizadas em dias intercalados, sempre às 19h, quando a grande maioria dos moradores empregados chega do trabalho. Nelas, discute-se o cotidiano da Nova Palestina e questões políticas, como atos e reuniões de negociação, por exemplo, e também é passada uma lista de presença – que se soma à lista do dia a dia e à dos protestos para controlar a frequência dos acampados nas atividades da Nova Palestina.
Segundo o MTST, quanto maior a presença das pessoas no conjunto de atividades, melhor a colocação delas nas listas para conseguir moradia via programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, ou o CDHU, estadual.
Após a assembleia, o jantar é servido às 20h. Depois de se alimentarem, os moradores assistem TV ou conversam em pequenas rodas. Então, começa a última atividade do dia (e uma das mais importantes): a trilha, uma espécie de ronda no acampamento para garantir a segurança dos moradores durante a noite. “A gente não é polícia, só organizamos as trilhas para garantir tranquilidade das pessoas dormirem”, afirma Dorgival, que faz parte da setorial de autodefesa.
Segundo ele, cerca de 40, 50 pessoas se dividem em trilhas que vagam, umas, nos grupos e, outras, em toda a ocupação – sempre divididos em quatro ou cinco pessoas.
Além de Dorgival, muitas outras pessoas que passam o dia no acampamento se dispõem a fazer as trilhas. Entre elas, está Clodoaldo Santos Costa, coordenador do G3 que, após longas caminhadas, vai dormir às 3h. Afinal, às 7h ele precisa estar em pé – vai buscar galões de água para fazer o café, que sustentará os moradores da Vila Nova Palestina em mais um dia de luta, dentro e fora da ocupação.

NO JD. MARIA SAMPAIO: VOCÊ JÁ FOI VÍTIMA DO RACISMO?

Você já sofreu racismo nas ruas e espaços privados de São Paulo?
Para discutir episódios de preconceito que têm acontecido no município de São Paulo, principalmente os relacionados ao racismo, a Associação Capão Cidadão e a Agência Solano Trindade promovem um debate sobre o assunto durante o evento “Áreas de Conflitos em Transformação”.
Para o debate, que começa às 15hs, foram convidados:
- Thiago Vinicius – (Agencia Popular Solano Trindade)
- Julinho (Circulo Palmarino)
- Paulo Brown (Radialista)
- Tula (Pilar)
- E mediação de Lino Bocchini (Carta Capital)
Ao longo do dia, a comunidade recebe atividades como exame de vista, limpeza de pele, manicure, aferição de pressão , cantinho da leitura, penteado infantil, massagem corporal e serviço do Zoonoses. 
Além disso, haverá a exposição “Uma Outra Cidade”, de Iatã Cannabrava, e shows de Fernanda Coimbra, Mc Spyke e Mc Preto, Johnny MC , Duque R e Mano Cobra (Conexão do Morro).
Anotaí
Áreas de Conflitos em Transformação
Quando? Sábado, 22 de fevereiro, a partir das 10hs
Onde? Rua Cantanhede, sem número – próximo à EMEF Fagundes Varella – Jardim Maria Sampaio – Campo Limpo – zona sul de São Paulo
Quanto? Grátis
Informações? Clique aqui.

Imagina na Copa lança documentário sobre "rolezinhos"


O Imagina na Copa lança essa semana o primeiro episódio do "Documento Imagina", série de documentários que abordará assuntos de grande repercussão envolvendo jovens no país. O primeiro vídeo tem com tema os “rolezinhos”, fenômeno que causou alvoroço no final do ano passado e início deste ano com encontros organizados por jovens moradores de periferia nos shoppings de São Paulo. O filme conta com depoimentos do antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, do jornalista Leandro Beguoci e dos Mc’s Spyke e Preto, de São Paulo, mostrando as diferentes visões sobre esses encontros.

A repressão policial durante esses eventos e a forma como a imprensa noticiou o “rolezinho” geraram um importante debate político e social sobre a legitimidade dos jovens de periferia no uso dos espaços da cidade e sobre seu padrão de consumo.  “A partir do momento em que a polícia militar reprime com bomba de gás, a imprensa chama de arrastão e o shopping passa a discriminar, isso passa a ser político”, afirma o antrópologo Alexandre Barbosa.

Sobre o Imagina na Copa

O Imagina na Copa é um projeto de mobilização social que usa a Copa do Mundo como um chamado para jovens transformarem o país para melhor. Nosso convite é para mobilizar a juventude brasileira a virar o jogo pro Brasil. Essa virada vai da própria inversão de sentido da frase “imagina na Copa” até da nossa própria atitude em relação ao país. As missões são convocações públicas para colocar as pessoas na rua e promover uma mudança na vida da cidade e das pessoas, de forma rápida, coletiva e divertida.

Acesse: http://imaginanacopa.com.br



DOCUMENTO IMAGINA | Rolezinhos

Mais  Um Documentário Excelente com a participação dos Mc's Spyke e Preto, Confira muita informação aos  jovens da  periferia sobre o Rolezinho .

Os rolezinhos foram um fenômeno que causou alvoroço no final do ano de 2013 e início de 2014 com encontros organizados por jovens moradores de periferia nos shoppings de São Paulo. Este documentário conta com depoimentos do antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, do jornalista Leandro Beguoci e dos Mc's Spyke e Preto, mostrando as diferentes visões sobre esses encontros.

DOCUMENTO IMAGINA é uma nova série de documentários que abordará assuntos de grande repercussão envolvendo jovens no país, produzidos pela equipe do projeto Imagina na Copa e da produtora de vídeos Apiário.


#1 | Rolezinhos 

www.imaginanacopa.com.br | Apiário.net
(2014)





CET vai dar atenção à periferia de São Paulo

Programa promete melhorar a segurança e a mobilidade em bairros que ficam fora do centro expandido
É muito difícil alguém que mora na periferia de São Paulo nunca ter tido problemas com sinalizações, faixas ou manutenção das ruas do seu bairro. Pensando nessas pessoas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) lançou, neste mês, um programa que promete melhorar a segurança e a mobilidade em lugares fora do centro expandido da capital.

O projeto "CET no seu Bairro - Melhorando a Mobilidade" promete trabalhar, em passos organizados, cada um dos bairros periféricos da capital. Na primeira etapa, setes bairros recebrão, a partir da próxima segunda-feira, 17, melhorias como implantação de faixas de pedestres, revitalização de vias e revisão da sinalização.

Os sete primeiros bairros serão: Vila Ede (Zona Sul), Jardim Myrna, Vila Mara/Parque Paulistano (Zona Sul), Jardim João XXIII/Jardim d´Abril (Zona Oeste), Vila Zatt, Jardim Mascarenhas de Moraes (Zona Leste) e Jardim Capão Redondo/ Vila Monte Alegre (Sul). Em dez meses, a intenção da Prefeitura é atender a 70 bairros.

Nesta primeira semana, serão implantadas 745 faixas de pedestres e revitalizadas outras 395. Quase 300 lombadas serão sinalizadas defidamente. Haverá também, entre outras , mais para frente, um programa de educação de trânsito para alunos em escolas das regiões escolhidas. Só na Vila Monte Alegre e no Capão Redondo, serão 934 alunos atendidos.

"Da quebrada para a frente da praia": Veja a trajetória de sucesso dos funkeiros

Carros importados, casas, sítios e aproximação com músicos sertanejos: MCs Guime, Menor, Pocahontas e Lon falam ao iG sobre como o funk melhorou suas vidas

Para alguns cantores de funk ostentação, as rimas sobre artigos de luxo deixaram de ser um sonho para se tornar realidade. "O conforto mudou completamente. Eu era um moleque que morava em uma casa alugada, apertada, dormia em beliche. Hoje tenho empregada para fazer comida, posso ajudar minha família", conta ao iG   paulistano MC Guimê.
O funk ostentação, ou funk paulista, é uma vertente do funk carioca. Com origem na Baixada Santista, no litoral do estado de São Paulo, tornou-se popular na Capital a partir de 2011. É um subgênero musical que usa batidas comuns ao funk carioca, mas as letras mostram os desejos de uma periferia que sonha em ter bons carros, roupas caras, festas bem produzidas e muito luxo.


Quando o "ostentação" vira realidade

Nascido em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, Guimê, que atualmente tem sua própria casa no bairro do Tatuapé, é um dos maiores representantes do funk ostentação no País. Recentemente, esteve presente em programas de TV como "Encontro com Fátima Bernardes" e "Domingão do Faustão", além de ter sido um dos artistas mais visualizados do YouTube em 2013.

Com seu trabalho com o funk, "a vida mudou da água para o vinho", define Guimê, de 21 anos. "De todas as coisas que eu fazia, pouquíssimas eu mantenho. Jogava bola na rua, soltava pipa. Infelizmente, não tenho mais tempo para isso, mudou a rotina." No entanto, as mudanças trouxeram visibilidade, melhores cachês e, consequentemente, a realização de sonhos que são cantados em suas letras. 

"Conquistei muita coisa, comecei a viver um sonho através do funk. Às vezes, falamos de um carro de meio milhão (nas letras), e tenho um carro de menos (valor), mas não sou tão apegado a isso", explica o MC - que diz ter hoje o carro e a moto que sempre quis.


Do "proibidão" para o "ostentação"

Não foi apenas a vida do MC Guimê que mudou para melhor por causa do funk ostentação. Para o MC Lon, de 22 anos, que também foi um dos destaques brasileiros do YouTube Awards 2013, o funk já permitiu que ele realizasse alguns sonhos, como comprar um sítio para a mãe e ajudar financeiramente os irmãos e o pai.

Antes da fama, Lon, que mora na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, trabalhava cortando cabelos. "Eu sustentava a família como cabeleireiro. Comecei a cantar funk e tudo melhorou na minha vida, chegou na hora certa", conta. "Tudo mudou de uns três anos para cá. No começo, foi muita ralação para ter alguma coisa." O MC também mudou de bairro desde que melhorou de vida: "Morava na quebrada, agora moro na frente da praia."

Conhecido anteriormente por cantar "proibidão", subgênero do funk com letras de apologia à violência, Lon conta que os shows só valorizaram quando foi para o "ostentação". "O cachê do 'proibidão' é mais da comunidade, mais da quebrada. Com o 'ostentação' a gente passa na tela (da TV), tocamos em baile bom, muda tudo." Com o sucesso, os sonhos de ter uma moto e um carro viraram realidade. "Tive um Camaro branco, fui com ele no (programa do) Rodrigo Faro e no meu clipe novo aparece uns detalhes dele."


Funk "romântico"

O MC Menor, da dupla Pikeno e Menor, não gosta de rotular suas músicas e diz que prefere trabalhar com "relatos de histórias" em vez de "ostentar" - característica essa que agrada ao público feminino, estimado por ele em 80% das pessoas que vão aos shows da dupla. "Contamos histórias que as mulheres se identificam", define.

Os hábitos que Menor tinha antes da fama também se modificaram, como as idas ao shopping para fazer compras. "Escolho horários na parte da manhã. Sempre morei no Carrão (zona leste de São Paulo) e sempre fui ao (shopping) Anália Franco. Mantenho isso, mas vou cedo porque à noite não dá mais, o pessoal cai matando", conta sobre o assédio dos fãs. 

Com seu trabalho como funkeiro, Menor, de 24 anos, conta que já conseguiu trocar de carro e comprar um apartamento para ele e outro para a mãe. O aumento do cachê é usado também para investir nos shows. "Antes era eu, o Pikeno, o DJ e o motorista. Hoje tem técnico de som, violão, estamos atrás de cenário, tem segurança. Conforme a música vai sendo pedida, aumenta a equipe e o tempo de palco". O MC explica que, no começo, os shows eram de 20 minutos. Hoje já têm quase uma hora.


"Mulher do Poder"

Conhecida como MC Pocahontas, Viviane Queiroz, de 19 anos, faz sucesso com um funk ostentação que, de certo modo, pode ser visto como um grito feminista de meninas que sonham em ser "do poder". A expressão é usada pela funkeira em "Mulher do Poder", letra escrita por ela que enumera alguns desejos de consumo: "Salão de beleza, roupa de marca, sandália de grife no pé/ Bolsa da Louis Vuitton, sonho de toda mulher." 

Quando ganhou a primeira bolsa da grife francesa citada na letra, Pocahontas se emocionou: "Chorei muito. Era um sonho, eu falava muito dessa bolsa". A funkeira diz que sua coleção de Louis Vuitton já tem cinco peças e, com a fama, planeja a abertura da própria marca, a "Ponto P". Pocahontas é uma raridade no cenário predominantemente masculino do "ostentação". Nascida e criada no Rio de Janeiro, a MC é fã de Nicki Minaj e Beyoncé, que, assim como a funkeira, falam sobre luxo e poder feminino em suas músicas.

"Vivo da minha imagem, tenho que estar sempre bem vestida. Passei a ligar mais para isso, vira um vício depois que você começa a usar (produtos de marca)". Há três anos cantando funk, Pocahontas conta que conseguiu comprar uma casa para a mãe e que agora pode passar no shopping para "comprar o que quer". Os pais trabalham com a MC, que é seguida por fã-clubes como o "Família Poca Loca", "Pocahontinhas" e "Pocahontetes", além de várias páginas de fãs no Facebook.


Aproximação com sertanejo e celebridades

Com a riqueza, vem também a fama. O jogador Neymar já convidou o MC Lon para andar de iate, diz o funkeiro, assim como artistas famosos passaram a enxergar seu trabalho com o funk ostentação de uma outra maneira. "Já fui em festa na casa do Neymar, na casa do Ralf do Corinthians, saí com a Turma do Pagode", enumera.

Para o MC Menor, a integração com outros artistas também tem sido positiva. "A maior mudança (na carreira) foi o respeito dos músicos. Eles procuram a gente, eles gostam. Estou mantendo contato com o Sorocaba (da dupla Fernando e Sorocaba), ele quer compor comigo." O sertanejo Lucas Lucco chegou a gravar uma música de Pikeno e Menor, "Toda Toda", por indicação do próprio Sorocaba.

O assédio também mudou. "(As mulheres) estão dando mais em cima. Antes, quando eu não era nada, ia nos bailes, via aquela menina bonita, mas que jogava o cabelo e fingia que não me conhecia. Hoje eu passo e elas mexem, chamam de 'gostosinho', onde eu vou todo mundo me adora", descreve Lon, que afirma fazer questão de atender todos os fãs para tirar fotos.


"Rolezinho"

"Acho que hoje, a cada 10 moleques que estão na rua, 11 gostam de funk, é normal escutar funk. Sou a favor dos encontros da molecada, mas sou contra a parte do vandalismo", diz o MC Menor sobre os "rolezinhos" - ele lembra que na época em que era adolescente os encontros em shoppings de São Paulo já aconteciam.

Para Lon, o "rolezinho" quando vira confusão "é muito chato". "Se fosse um encontro que junta todo mundo, sem machucar ninguém, tudo bem. Mas do jeito que está eu não dou valor, não."

A MC Pocahontas teve uma experiência ruim durante um encontro de fãs em um shopping no Rio Grande do Sul. Segundo a cantora, houve tumulto e, depois disso, ela prefere recomendar que os "rolezinhos" aconteçam em outros lugares. "Deviam fazer na balada. No shopping tem muita família, que acaba encontrando um monte de gente correndo e aloprando, isso é meio constrangedor.

Área de Conflitos em Transformação


Diálogos Sobre Os Centros De Juventude


"Diálogos obre Centros de Juventude". 
A Ação Educativa está mobilizando junto do Instituto Paulista de Juventude e com apoio da Ação Comunitária. É uma atividade aberta a educadores, jovens, gestores e quem mais tiver interesse em discutir essa política, que atinge um número significativo de jovens paulistanos


Jovens Pobres Recebem 150 por Protesto para fazer Vandalismo diz Advogado de Indiciados


Sob os holofotes desde que assumiu a defesa dos ativistas suspeitos de lançar o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, o advogado Jonas Tadeu Nunes, de 54 anos, afirma que seus clientes foram aliciados e manipulados por grupos políticos que financiam a participação de jovens em manifestações. Sem citar partidos, ele diz que a polícia não deve dar por encerrada a investigação apenas por conta das prisões de Fábio Raposo e Caio Silva de Souza.
- Estive com quatro jovens que vivem amontoados num cômodo, recebendo dinheiro para alimentação e passagens de aliciadores. Esses grupos agem como células e a base nem sabe quem esta por trás da fonte de financiamento. Jovens com baixa instrução e de famílias pobres, que vão perder suas liberdades enquanto os verdadeiros culpados, os aliciadores, vão continuar livres. Esses são os verdadeiros responsáveis por desgraçar a vida do cinegrafista e desses jovens. Esse aliciamento tem que parar - disse o advogado, que mais cedo, em entrevista à Globonews TV, afirmou que eles recebem R$ 150 por cada manifestação para praticar atos de vandalismo.
Jonas acrescenta que Caio não tem dinheiro para comprar máscaras ou mesmo os fogos usados nos protestos. Segundo o advogado, o rapaz levava marmita para o trabalho, andava com o dinheiro da passagem contado e teve que vender o celular para comprar a passagem para ir à casa do avô paterno, no Ceará.
Em entrevista à GloboNews TV, o advogado diz que ônibus iam buscar esses rapazes, e acrescentou que há um esquema de pirâmide e que os pagamentos eram feitos por ativistas.
— Quando esses jovens chegam às manifestações, têm outras pessoas que entregam rojões, máscaras e equipamentos.

Após rolezinhos, jovens da periferia viram alvo das grifes

De acordo com o Data Popular, marcas querem ser citadas em letras de funk

Eles causaram polêmica e viraram caso de polícia. Mas, embora os rolezeiros não sejam benvindos em shoppings, se tornaram os novos queridinhos das marcas de roupas.

De acordo com Renato Meirelles, presidente do Data Popular, só nos últimos vinte dias, seis empresas de moda e bebida alcoólica solicitaram ao instituto uma consultoria para entrar nas letras de funk ostentação. Duas, que já são citadas nas músicas, entraram em contato preocupadas com a própria imagem, mas logo se convenceram dos benefícios da divulgação gratuita do funk ostentação.

— Essas marcas queriam sair das letras de funk por medo de popularizar demais e perder o cliente da classe A.   Segundo Renato, essa ideia é equivocada. A classe A não ouve funk e, por isso, mal toma conhecimento da associação das grifes a esse público. Além disso, mesmo consumindo as mesmas etiquetas, classes A e C procuram produtos bem diferentes.

— A camiseta da Lacoste da classe A é lisa, a da classe C é toda colorida. O cavalinho da camisa da Polo é grande para a classe C e discreto para a classe A.

E essas diferenças não são só uma questão de gosto.

—  Não é apenas para mostrar a marca, o jovem da classe C está celebrando a melhora de renda que ele teve e, por outro lado, diminuindo os preconceitos que enfrenta da sociedade. Ele acha que se tiver uma roupa melhor vai se dar bem em entrevista de emprego, vai entrar mais rápido em uma balada, não vai sofrer batida da polícia. 

De acordo com Renato, o jovem da classe C movimenta R$ 129 bilhões por ano em consumo, e 10 milhões de pessoas ouvem funk no Brasil. A explicação para essa paixão repentina das grifes pelos jovens rolezeiros e funkeiros, portanto, se explica com números.

— Ainda existe muito preconceito, mas algumas empresas o engolem pelo volume de dinheiro que os jovens da classe C movimentam. O preconceito existe pelo estilo de música, cor da pele e estilo deles, mas o rolezinho explicitou o potencial de consumo desses jovens.  

Leia também

Princesa do rolezinho abre a casa para o R7 e desabafa: "Fui enganada e maltratada"

Polêmica: funkeiro fala sobre rolezinho e artistas revelam o que pensam

Periferia e consumo de informação

O texto “Tudo nosso, nada nosso“, publicado no site da revista CartaCapital e escrito pelo romancista, contista e poeta Ferréz, dá destaque para a inclusão social. “Aposte no caos se não houver inclusão”, diz Ferréz. O autor ainda ressalta: “A periferia há muitos anos está defasada de algo que atraia o jovem. Não temos meio nenhum de entretenimento para alguém que hoje completa 14 anos.”
As palavras escritas no último dia 25 de janeiro, momento em que a periferia está muito presente na mídia, atiçam questionamentos e reflexões. Sim, falta entretenimento para o jovem de 14 anos e para os integrantes das outras faixas etárias também. Da mesma forma que falta educação de qualidade. Entretanto, há algo que não está distante dessas pessoas. O acesso à informação. Seja de boa ou má qualidade. Antes, mesmo com poucos recursos, era comum uma família ter aparelho de TV em casa. Hoje ela consegue ter acesso à internet. Logo, possui uma ferramenta que permite acesso a um número maior de informações.
No dia 31 de janeiro, a Folha de S.Paulo anunciou que vai publicar às sextas-feiras textos sobre a cultura na periferia. As publicações podem ser encontradas no Mural, blog mantido por correspondentes comunitários e fruto de uma parceria da Folha com o Internacional Center for Journalism. Haveria um espaço assim se a população periférica não consumisse informação?
Este mesmo veículo mostrou a história de um jovem que foi aprovado na Universidade Federal de Sergipe, mas não tinha condições financeiras de pagar a viagem para fazer a matrícula. Por causa da matéria, algumas pessoas se mobilizaram e ajudaram o garoto, que vivia numa favela localizada no distrito do Grajaú.
Problemas em diversos setores
Grajaú é o distrito mais populoso da cidade de São Paulo. De acordo com a projeção realizada em julho de 2013 pela Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), a região apresenta uma população total de 369.471 pessoas, sendo que a predominância é de mulheres. Localizado no extremo sul da capital, às margens da represa Billings, Grajaú ilustra bem o artigo de Ferréz.
Falta lazer para tanta gente. No distrito há dois CEUs da prefeitura, um no Cantinho do Céu, próximo a áreas mananciais, e outro no Jardim São Pedro. O circo escola que oferecia atividades relacionadas à dança, teatro, circo, artes visuais e esportes fechou no primeiro semestre de 2013 por falta de recursos. De acordo com a matéria publicada no portal G1, mais ou menos 1.300 crianças eram atendidas. Além disso, há apenas um hospital de grande porte, que atende desde o morador “grajauense” até o de Parelheiros.
A população ainda sofre pela lotação exagerada do transporte público. O trem que pertence à linha Esmeralda da CPTM e fica no terminal Grajaú, local em que está a maioria das linhas de ônibus, sai como uma lata de sardinha em horários de pico e quando ocorrem problemas, da maneira que uma reportagem do Fantástico mostrou num domingo de janeiro. Uma das principais avenidas do lugar, a Dona Belmira Marin, apresenta trânsito complicado até aos fins de semana. É estreita e não possui corredor de ônibus. Ao percorrê-la é possível ler em muros frases de protesto contra o aumento da passagem e contra a Copa. Além de convites para manifestações por melhorias no transporte.
Em junho do ano passado, enquanto a região central enfrentava uma das manifestações em que houve violência, a Dona Belmira Marin tinha lojas roubadas, ônibus incendiados e um grupo de jovens gritando palavras obscenas contra o governo Alckmin. Nada saía do terminal Grajaú e o povo precisou caminhar muito para chegar em casa durante à noite. Sendo que algumas pessoas precisaram descobrir novos caminhos, pois parte da avenida estava interditada pela polícia. O caso não teve muito espaço na mídia. Já as manifestações por moradia, iniciadas no segundo semestre de 2013, alcançaram um maior número de aparições na imprensa. No entanto, não gerou nada analítico.
Entre os problemas destacados, que vão além do Grajaú, existe uma população atenta ao que está acontecendo na sociedade. Isso não quer dizer que a maioria já esteja apta para avaliar e refletir a respeito. Afinal, a educação permanece em decadência. Todavia, está acompanhando as mudanças dos últimos anos e deseja ocupar espaços que antes pareciam inalcançáveis. E os veículos de comunicação são personagens em destaque nesta história.
***
Priscila Pacheco é estudante de Jornalismo

O que está a acontecer no Brasil é a periferia a pedir para ser ouvida

Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco, é um dos três principais candidatos à presidência do Brasil. Socialista, quer ultrapassar o Governo de Dilma Rousseff pela esquerda. Pragmático, faz a apologia da eficiência e da gestão privada.

Neto de Miguel Arraes, uma figura histórica da resistência à ditadura militar (1964-1985), Eduardo Campos pegou num partido de segundo plano, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), e, através de uma estratégia de alianças com o PT de Lula, foi consolidando a sua presença no terreno político do Brasil.
Hoje, o PSB controla uma bancada no Congresso de quatro senadores e 26 deputados federais e o governo de seis estados. Eduardo Campos rompeu a aliança com o PT, que perdurava desde 1989, e parte para a disputa das presidenciais de Outubro em aliança com Marina Silva, que, em 2010, obteve 20 milhões de votos. Para ele, o PT de Lula já não existe. O Governo de Dilma tornou-se epicentro de um bloco “conservador”. A sua entrevista em exclusivo abre o Ano Grande do Brasil no PÚBLICO.

A desaceleração da economia do Brasil que se verifica depois de 2010 é um problema passageiro ou o sintoma de uma crise profunda que vai exigir respostas difíceis no futuro?
Nas últimas três décadas, até 2010, o Brasil viveu três ciclos muito importantes. Um ciclo da redemocratização, que teve como símbolo a campanha que faz agora 30 anos, a campanha das Directas Já; em sequência, tivemos um momento de grande mobilização social que foi o impeachment [destituição] do primeiro Presidente eleito do Brasil [Collor de Mello], que abriu a possibilidade da transição para uma economia estabilizada, nos governos dos presidentes Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso [FHC]. Depois, o Brasil foi presidido pelo Presidente Lula, que fez uma transição social, que colocou o tema da desigualdade social na agenda brasileira. Daí em diante, vivemos nesses três últimos anos um tempo bem diferente. Um tempo em que há uma situação que limita o crescimento. Internamente, não se fez a agenda mais complexa, que permitisse o Brasil viver esse tempo de crise. Pelo contrário.

Era preciso uma alteração na política do Governo?
Era preciso ter uma visão de longo prazo, operar com a sociedade um diálogo para permitir uma narrativa segura sobre o aprimoramento desse modelo económico, com regras claras, com tranquilidade para os investidores, com animação para alavancar investimentos. Nós tivemos um crescimento que vem muito do crédito, que fez do consumo o grande motor do crescimento, da melhoria da renda dos mais pobres. Nos oito anos de FHC, o crescimento do PIB ficou em torno dos 2%, nos oito anos do Lula, em torno de 4% e, agora, está a ficar abaixo dos 2%. Depois de um crescimento com inclusão, com a melhoria da qualidade de vida, agora há um travão do crescimento, porque não conseguimos alavancar os investimentos privados porque, por um momento, passou a sensação de que as regras se poderiam alterar e os investidores começaram a ter uma posição de maior precaução.

Quer isso dizer que uma das explicações para a actual situação da economia tem por base o privilégio concedido ao aumento do consumo em detrimento do aumento do investimento produtivo?
Quer o consumo quer o investimento são importantes na equação brasileira. O acesso ao crédito ainda precisa de ser melhorado para se combater a desigualdade social no Brasil. Mas também temos de apostar no investimento. Uma coisa não é excludente da outra. Eu acho que a gente descuidou de fazer no investimento o mesmo processo que conseguimos fazer com o consumo. E isso teve impacte nos resultados, ao que se somou a percepção de que a qualidade de vida não continuou a melhorar, como era impressão nacional ao longo desse processo de construção da democracia, estabilidade económica e inclusão.

Quais serão, no seu entender, as medidas prioritárias para que se regresse a um rumo de crescimento e de satisfação?
É preciso ter segurança na narrativa de longo prazo, que passe a ideia de um modelo de desenvolvimento económico, segurança jurídica para quem investe aqui, a disposição para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Uma narrativa que aposte na qualidade dos serviços públicos brasileiros, com investimento muito forte em educação. Se há algo que sintetiza, entre os serviços públicos, a possibilidade de se melhorar sistemicamente a sociedade, tanto do ponto de vista económico como social, é o investimento muito forte na educação, focado em uma década.

A Presidente Dilma diz também que a educação vai ser uma das suas prioridades para um próximo mandato. O que é que o separa dos outros candidatos às presidenciais?
Não sou eu que me digo diferente, são as pessoas que me vêem de forma diferente. Porque nós temos uma tradição progressista, de esquerda, democrática, de quem ajudou a construir a democracia nesse país, de quem resistiu à ditadura, de gente que ajudou a transição democrática e a transição económica que o Brasil viveu e que sempre esteve na base de sustentação do projecto que levou Lula à presidência da república. Desde 1989 que o meu partido fez parte da frente Brasil Popular. Ajudámos a construir esse projecto. Eu tive a honra de ser ministro do Presidente Lula no seu primeiro mandato, como também a Marina Silva, a minha companheira da Rede de Sustentabilidade. E nós, diferentemente de outros que negam os avanços que ocorreram na sociedade brasileira, fizemos parte e ajudámos a construir esses avanços. Há muita luta acumulada, muitos acertos que permitiram que nesses últimos anos o Brasil pudesse viver um ciclo que o melhorou. Mas agora é preciso construir um novo ciclo que permita consolidar as conquistas feitas e que abra portas a novas conquistas. O que a gente percebe é que hoje a base que sustenta o Governo tem uma hegemonia claramente conservadora, de partidos que nunca estiveram nem directamente envolvidos na construção democrática, nem na construção da estabilidade económica nem tiveram nenhum link de preocupação com o social.

Refere-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro [PMDB, que é o principal aliado do PT no Governo]?
A base virou um centro conservador. Até o PMDB progressista está fora desse processo. Aqueles ícones do velho PMDB, da luta contra a ditadura, estão a contestar a direcção partidária. O que eu percebo é que é necessário que surja no país um novo pacto social, que é desejado, que não nega as coisas que foram construídas, que dialoga e que constrói um novo pacto político e que possa levar o Brasil ao crescimento com redistribuição de renda. O objectivo central é melhorar o país porque ele começou a piorar, e se nós não rompermos essa lógica, vamos assistir às conquistas de ontem serem destruídas no quotidiano desse ano e do próximo.

Reclama-se progressista, e o seu partido reivindica um legado socialista, mas a sua governação no Estado de Pernambuco mereceu o elogio da revista The Economist por ter introduzido métodos de gestão privada, amiga do mercado. Não há aqui uma contradição?
Eu sou um socialista que sabe fazer o serviço público funcionar para os que precisam do serviço público. E os que precisam do serviço público querem que as escolas funcionem, que a escola funcione em tempo integral [com horário repartido pela manhã e pela tarde] como na maioria das escolas de Pernambuco. Nós somos um estado pobre entre os 27 estados da federação, mas nós temos mais alunos em tempo integral do que o Estado de São Paulo. Então se essa escola tem metas a cumprir e se os professores recebem bónus, melhor para os professores e melhor para os alunos. Se temos hospitais que precisam de cumprir um determinado número de procedimentos, que se medem, melhor para o cidadão que vai para a rede pública, porque evita pagar, quando ele não pode, um seguro privado de saúde. Se indicadores de violência medidos melhoraram, melhor para os cidadãos, que se sentem seguros. Nós somos o único estado do Brasil no qual os indicadores de violência melhoraram ininterruptamente nos últimos sete anos. Todos os outros, em algum ano, tiveram aumento da violência. O Governo com ferramentas de gestão que são utilizadas pelas grandes empresas beneficia os mais pobres, os excluídos. Não há contradição. O nosso Governo foi premiado pela ONU pelo modelo de gestão, por ser considerado um modelo de política pública de referência. É isso que a The Economist reconhece, como reconheceu os acertos do Governo Lula.

Faz uma distinção clara entre o Governo de Lula e o de Dilma. Porquê? O que têm de diferente um e outro?
Não sou só eu que faz essa distinção. Essa distinção é feita pelos brasileiros, que esperavam que, com a eleição da nova Presidente, houvesse avanços ao que havia sido construído pelo Presidente Lula. Na verdade, esses avanços não só não vieram como, em alguns casos, houve recuos: concentração de rendimento em algumas das regiões mais pobres do país, desaceleração do crescimento económico e algumas políticas públicas perderam força, como a reforma agrária ou a qualificação profissional. E, sobretudo, houve um recuo na capacidade de diálogo.

Como avalia as políticas sociais contra a exclusão, como o Bolsa Família. O Estado deve continuar a financiar os mais pobres? Propõe mudanças de fundo ou apenas ajustamentos?
Eu venho da região mais pobre do país, fui eleito governador com o voto das regiões mais pobres do Nordeste. Eu tenho uma consciência da importância dessas políticas. Muitas dessas políticas foram copiadas de programas daqui, de governos que o meu partido fez em Pernambuco. Por exemplo o programa Luz para Todos, lançado pelo Presidente Lula e inicialmente tocado pela então ministra das Minas e Energia [Dilma Rousseff], foi feito nesse estado pelo último governador do meu partido, que foi Miguel Arraes…

Seu avô…
… Exactamente. Se vir o programa Bolsa Família, ele já existia em Pernambuco, só que naquela época chamava-se Chapéu de Palha. Programas como o Minha Casa Minha Vida existiram aqui nos primeiros mutirões [acções colectivas] que o Brasil viu de construção popular nas nossas favelas. A primeira experiência de crédito popular foi feita pelo Banco do Estado de Pernambuco. Então eu tenho um compromisso de vida com essas políticas públicas, que melhorem, que transformem a vida dos que mais precisam.

Os impostos já representam 37% do PIB e vários especialistas dizem que, quando se inverter a tendência demográfica das últimas décadas, o país vai ter um problema com a previdência. Está na hora de a reformar?
Nós fizemos uma reforma da previdência no primeiro ano do Lula e ainda nem usámos os espaços que essa reforma produziu na sua integridade para melhorar as contas da previdência. Antes de pensar numa reforma da previdência, precisamos de usar os espaços que já nos foram dados por essa reforma. Nós precisamos, sim, de estimular o surgimento da previdência privada, para que se possa com isso formar uma massa de poupança interna que suporte a alavancagem dos investimentos e que nos torne menos dependentes da poupança externa.

Mas não faz sentido, por exemplo, aproximar a idade média da reforma, que hoje ronda os 55 anos, aos padrões das economias avançadas?
Os problemas provocados pelo envelhecimento não chegaram cá na mesma proporção com que chegaram à Europa. Ainda temos uma população jovem, temos 20 anos de janela demográfica, temos que fazer esse processo por fases e não chegámos ainda à fase de alterar a idade da reforma. Temos tempo para fazer essa reforma, que não é singela. A Europa sabe que a reforma da previdência não é um tema fácil.

O Banco Mundial ou a OCDE dizem que um dos problemas do Brasil resulta do seu excessivo proteccionismo económico. Apesar de ser um gigante, o país exporta apenas 13% do seu PIB e importa 14%, o que é pouco comparado com, por exemplo, Portugal [cerca de 40% do PIB]. Se for eleito, vai abrir o país ao exterior?
Claro que a gente tem um grande objectivo, que é incrementar o comércio exterior. Esse é um dos espaços que precisamos de ocupar para retomar o crescimento económico. Depois dessa grande crise que vive o capitalismo desde 2008, há mudanças muito significativas no comércio exterior. Há um reposicionamento dos grandes blocos económicos em busca de um outro tipo de política comercial, bem distinto do que vimos até ao início dos anos 2000. E o Brasil não pode ficar excluído disso. Um passo importante para o Brasil é ver de outra maneira a sua relação com Portugal, uma relação que deve sair do recurso estratégico para ir para a prática na integração com a União Europeia (UE). O tratado de integração da UE com o Mercosul se faz mais e mais necessário nesse momento para que possamos ver incrementada a nossa balança comercial.

O Brasil alterou a sua cautela em relação ao investimento privado e lançou um amplo programa de concessões de obras públicas que envolve agentes privados. Concorda com essa estratégia?
Sim. Se você chega à conclusão de que precisamos de mais portos, mais estradas, mais aeroportos, mais serviços de saneamento, e se o Estado não tem como fazer sozinho, tem de chamar a ajuda do parceiro privado.

Mas isso não é adiar os custos públicos para o futuro?
Não, de certa forma é antecipar investimentos que estão sendo devidos à sociedade. Vamos esquecer a qualidade de vida de uma criança que vai se tornar adulta numa rua pisando no esgoto apenas porque se ficou com um preconceito político? Se coube nas contas e dá para antecipar e pagar em 30 anos, por que vou esperar 30 anos juntando dinheiro para que uma criança pegue doenças numa rua com esgoto a céu aberto? Para quem vive numa casa com saneamento, ou vive nos debates fora dessa realidade, pode até fazer sentido, mas para uma mãe que vê seus filhos pisando no esgoto, ela quer que seja feito quanto antes.

O crescimento dos salários na última década, não apenas o salário mínimo, esteve sempre acima da produtividade, o está a retirar competitividade à economia brasileira. Como pensa resolver este problema?
Investindo em infra-estrutura, investindo em inovação. Podendo fazer investimentos em energia que favorecem um custo energético mais baixo, fazendo uma política fiscal correcta e coerente com a política monetária para que a gente possa ter juros mais baratos. O país foi sacudido por duas décadas de uma espiral inflacionária terrível, que levou a uma massa salarial extremamente deprimida. O Brasil precisava de melhorar o perfil de distribuição de rendimento. Foi o que ocorreu e não vamos imaginar que, achatando os salários agora, vamos resolver o problema da produtividade. Nós vamos resolver o problema buscando condições para dar à economia uma produtividade melhor, garantido os investimentos que precisam de ser feitos, garantindo uma educação de melhor qualidade.

Há personalidades do PT que dizem que o senhor se precipitou na sua candidatura, que deveria ter esperado por 2018, porque nesse momento seria apoiado pelo próprio PT.
Se a nossa candidatura era boa em 2018, por que não é boa em 2014? A menos que o Governo fosse bem. Se o Governo está pior do que o que existia antes, então eu estou a ver aí pessoas que, na verdade, estão a recomendar a nossa candidatura. Se é bom para 18, por que não é bom para 14? Só não seria bom para 14 se houvesse um Governo que estivesse a ser aplaudido pela população, mas o que a gente percebe é que, no seio da sociedade brasileira, há um desejo de câmbio.

As sondagens não são muito indicadoras desse desejo…
São, são. Porque só está a olhar para sondagens quantitativas, onde Dilma luta com dois candidatos desconhecidos (Eduardo Campos e Aécio Neves). Está comparando uma pessoa superconhecida, exposta a um grande esforço de media com dois candidatos que jamais disputaram uma eleição fora dos seus estados. Se fizer grupos de pesquisa qualitativa, se isolar numa amostragem aqueles que conhecem todos os candidatos ou pretensos candidatos, vai ver qual é o resultado de 2014.

Ser um nordestino não é uma desvantagem num sistema político historicamente dominado pelo “café com leite” dos estados ricos (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul)?
Pode ser uma vantagem também. O Brasil pode estar a fim de quebrar os paradigmas da velha política e dar oportunidade a alguém da periferia. Tudo o que está a acontecer no Brasil é a periferia pedindo a oportunidade para ser ouvida. Eu e a Marina viemos da periferia: ela vem do Norte [Estado do Acre, na Amazónia profunda] e eu venho do Nordeste. Nós entendemos de gente.

Em Pernambuco, onde o PT de Lula teve votações na ordem dos 75% e onde o senhor foi reeleito com 82,5%, quem vai ganhar as eleições?
Vamos esperar para ver.

Mas qual é a sua expectativa?
A de ganhar a eleição.

A herança do seu avô vai ter influência na projecção da sua imagem em termos nacionais?
Veja, na verdade, ele é uma referência. Todas as pessoas que têm interesse em conhecer-me vão saber que eu venho de uma origem política que tem o seu respeito. Sabem que somos gente que sempre fez política com seriedade, em torno de princípios, de forma honrada, que respeitou os recursos públicos, que fez da vida uma luta para a construção de uma sociedade sem as injustiças que ainda marcam a vida brasileira. As pessoas sabem que nós tivemos um exemplo muito bonito, que nos honra a todos.

É favorável a políticas desenvolvimentistas. Não tem receio de que essa sua forma de estar na política possa colidir com o ecologismo da sua aliada Marina Silva, que saiu do Governo de Lula por causa de uma barragem? E o seu progressismo em questões sociais não vai entrar em choque com um certo conservadorismo que Marina apregoa em questões como, por exemplo, a do aborto?
Acho bom que a gente conviva com a diferença. A sociedade brasileira pensa de forma distinta sobre muita coisa. Faço militância política desde que me entendo de gente e sempre aprendi a ter opinião sobre as coisas e a respeitar a opinião dos outros. A convencer e muitas vezes a ser convencido. Isso é muito bom. Quanto ao desejo de fazer, as pessoas que me conhecem sabem que eu gosto de planeamento, que eu gosto de montar equipas e de fazer acontecer. Mas ninguém no mundo hoje pensa em fazer nada que não esteja tocado pelo compromisso com a sustentabilidade e o meio ambiente. Acho que a Marina traz para este conjunto a contribuição de uma geração de jovens que se preocupa com a questão da sustentabilidade, da mesma forma que os jovens se incorporaram na fundação, nos anos 40, do PSB estavam preocupados com o socialismo democrático. Esse encontro é um encontro que tem larga aceitação na sociedade. Não vejo ninguém a achar que esse encontro não tem consistência.

Os três prováveis candidatos com mais projecção nacional à disputa da presidência são uma trabalhista [Dilma Rousseff], um social-democrata [Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira] e um socialista [Eduardo Campos]. O que explica esta singularidade brasileira de não haver candidatos de Direita fortes?
Eu acho que isso ainda é consequência da derrota do golpe militar de 1964. Não se restabeleceram ainda. Os resultados do tempo do arbítrio e do autoritarismo da Direita terminou por fazer com que o campo conservador brasileiro agisse na política de forma envergonhada. Que descesse para a política nos estados para se proteger nos espaços de poder municipais e estaduais e pudesse assistir à transição democrática. Depois, o chamado presidencialismo de coligação, inaugurado com a Aliança Democrática [que elegeu Tancredo Neves, em 1985], sequenciado pelo Presidente FHC e pelo Presidente Lula depois da crise de 2005, quando ele incorporou uma frente mais ampla de partidos, fez com que esse campo conservador se adequasse à disputa política por pedaços do poder, municipais, estaduais e em alguns lugares na esplanada dos ministérios. É claro que isso não é uma questão que se aguente no tempo.

Conhece Portugal?
Conheço e gosto muito de Portugal. Tenho muitos amigos em Portugal.

Tem amigos políticos em Portugal? O seu avô tinha.
Sim, o Mário Soares, o Manuel Alegre... Conheci muitos ainda em outros tempos, por acompanhar o meu avô em reuniões políticas, em que ele recebia missões do PS e do PCP, intelectuais, professores e escritores. Mais recentemente, na minha função no Parlamento, na presidência do PSB ou quando fui ministro do Presidente Lula, tive contactos com autoridades do Governo. Tenho aqui uma colónia portuguesa muito expressiva e muito querida, muito próxima de nós e que torce para que sejamos capazes de trazer Portugal para mais perto do Brasil e o Brasil para mais perto de Portugal, para que nos possamos ajudar mutuamente.